sexta-feira, 14 de março de 2014

CONSULTA SOBRE O LIVRE-ARBÍTRIO

Por Rev. Alan Rennê

Um amigo e irmão em Cristo me enviou o seguinte questionamento:

“Vou ser direto, mas você pode ser longo, se tiver tempo. Sabendo que apenas Adão e Eva tiveram LIVRE-ARBÍTRIO (capacidade de escolher, por si mesmo, entre fazer o bem ou o mal) e, devido ao pecado, temos hoje o que chamamos de LIVRE-AGÊNCIA (capacidade de decisão que não influi em nossa salvação). Teremos na GLÓRIA o LIVRE-ARBÍTRIO novamente? Por favor, mande uma resposta com referências bíblicas”.

Abordarei a questão a partir do seguinte esquema: 1) Definições; 2) O Livre-Arbítrio no Éden; e 3) Livre-Arbítrio na consumação.

I - Definições

Este é um assunto extremamente delicado. Isso se dá, principalmente, pelos usos distintos que arminianos e calvinistas fazem do termo “livre-arbítrio”. É necessário compreender que, “a expressão ‘livre-arbítrio’ não se encontra na Bíblia, e o conceito popular que se tem dele também não”.[1] Nesse termo, os conceitos de liberdade e vontade estão envolvidos. No caso, é a afirmação de que a vontade é livre. Quando os arminianos usam o termo “liberdade”, eles estão dizendo que a vontade é livre e independente de uma causa determinadora prévia. Os calvinistas falam em liberdade, mas não querem dizer que os atos da vontade sejam desprovidos de uma causa determinadora ou que sejam frutos do acaso. O mesmo se dá com o termo “vontade” ou “arbítrio”.Charles Hodge pontua que, “a palavra vontade em si é um daqueles termos ambíguos”.[2] Quando os arminianos falam em vontade, eles se referem a um poder independente e autônomo pelo qual podemos realizar escolhas. Já os calvinistas, ao falarem da vontade, referem-se simplesmente à função de escolher ou desejar algo, “não um poder independente da anatomia da alma humana”.[3]

Gostaria de fazer duas observações: Primeira, a definição de livre-arbítrio apresentada não está incorreta, ou seja, trata-se “do poder inerente de escolha com a mesma facilidade entre alternativas”[4], no caso, entre o bem e o mal. Nossa Confissão de Fé de Westminster assim se expressa a respeito do livre-arbítrio: “O homem, em seu estado de inocência, tinha a liberdade e o poder de querer e fazer aquilo que é bom e agradável a Deus, mas mudavelmente, de sorte que pudesse decair dessa liberdade e poder”.[5] Porém, ela ainda deixa algumas verdades pontuais descobertas. Por exemplo, ela acaba pressupondo um estado de neutralidade moral por parte do ente que realiza a escolha. E nós sabemos que não havia no homem neutralidade moral por ocasião da sua criação: “Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom” (Gênesis 1.31a). Note, que aqui a criação do ser humano à imagem e semelhança de Deus já tinha sido realizada. Assim sendo, a natureza humana era boa, santa e etc. Conclui-se, portanto, que Adão não estava imbuído de neutralidade moral. Com isso em mente, a melhor definição de livre-arbítrio que encontro é a seguinte: É a capacidade de realizar escolhas contrárias à inclinação moral do indivíduo. No caso de Adão, que possuía uma natureza santa e uma inclinação para o bem, o livre-arbítrio consistiria na capacidade dele escolher aquilo que era diametralmente oposto à sua natureza santa e boa: o mal.

A segunda observação diz respeito ao conceito de livre-agência. Esse conceito aponta para o homem enquanto um agente livre e responsável por suas ações e escolhas. O Dr. Héber Carlos de Campos define “livre-agência” como segue: “a capacidade que todos os seres racionais têm de agir espontaneamente, sem serem coagidos de fora, a caminharem para qualquer lado, fazendo o que querem e o que lhes agrada, sendo, contudo, levados a fazer aquilo que combina com a natureza deles”.[6] Em outras palavras, a livre-agência é a capacidade que os seres racionais possuem de agirem de acordo com as inclinações dominantes das almas deles. No caso de Adão e Eva e de todos os seres humanos após a Queda, está correto em se afirmar que possuem livre-agência. A natureza humana se tornou corrompida, totalmente depravada, completamente inclinada para o mal: “Viu o SENHOR que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração” (Gênesis 6.5). A livre-agência abrange o querer, o gostar e a predileção dos seres racionais, sempre de acordo com as inclinações dominantes da alma humana pós-queda. Isso significa que o querer do homem é mau, seu gosto é por aquilo que é mau, sua predileção está na corrupção, em virtude de ser continuamente má toda a inclinação da sua alma.

E quanto ao convertido? Teria ele o livre-arbítrio restaurado, uma vez que ele foi salvo e capacitado a desejar o bem? Não, de forma nenhuma! O convertido possui apenas livre-agência. Ele possui duas naturezas. A nova foi implantada pela ação do Espírito Santo ao aplicar nele os benefícios do sacrifício redentivo de Jesus. “O convertido não tem livre-arbítrio porque age segundo a sua natureza. Quando faz o bem, age segundo o Espírito que está nele; quando faz o mal, age segundo a carne”.[7] Paulo afirma em Gálatas 5.16: “Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne”.

II – O livre-arbítrio dos nossos primeiros pais

A grande questão, para mim, está na pressuposição de que Adão e Eva possuíam o livre-arbítrio, como “a capacidade de fazer coisas contrárias à sua inclinação moral”.[8] Tal tem sido a posição da maioria dos teólogos reformados. Alguns questionamentos surgem, como por exemplo: Por mais que Adão e Eva possuíssem essa capacidade, o que os levaria a escolherem o mal, se a inclinação dominante de suas almas era para o bem? Como alguém santo, desconhecedor do mal, escolheria o mal, se dentro de si sua inclinação era santa? Quando colocada sob a óptica da absoluta soberania de Deus, tenho dificuldades em admitir que nossos primeiros pais possuíam livre-arbítrio. Concordo plenamente com Vincent Cheung, quando ele afirma o seguinte:

A liberdade é relativa – você é livre de algo. Dizemos que o homem não possui livre-arbítrio porque ao discutir a soberania divina e a responsabilidade humana, lidamos com a relação metafísica entre Deus e o homem. De forma mais específica, a questão é de que modo e qual a extensão do controle divino exercido sobre os pensamentos e as ações dos homens. Dessa forma, nesse contexto, quando perguntamos se o homem dispõe de livre-arbítrio, perguntamos se o homem é livre de Deus ou do controle de Deus em qualquer sentido. pelo fato de o ensino bíblico ser que Deus exerce controle constante e absoluto sobre todos os pensamentos e ações dos homens, a conclusão necessária é que o ser humano não possui livre-arbítrio. Sua liberdade é zero em relação a Deus.[9]

É inadmissível a ideia de que Adão desfrutasse de algum grau de liberdade em relação a Deus. De fato, as faculdades de sua alma agiram para que ele pecasse contra Deus. Sendo santo, ele escolheu tomar do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. No entanto, essa liberdade não foi exercida de forma autônoma, livre de Deus ou do seu controle. Concordo com a bombástica declaração de Cheung:

Também, os calvinistas frequentemente afirmam que Adão foi livre antes da Queda. Mas novamente, eu sempre falo de liberdade com relação à Deus, e dessa perspectiva, eu diria que Adão não teve nenhuma liberdade, seja qual for, nem mesmo antes da Queda. Ser “livre” para pecar é irrelevante. A questão é se Adão era livre de Deus para escolher permanecer no pecado – ele não era. Em adição, eu não diria que Deus permitiu Adão cair, mas que Deus causou essa queda. Muitos calvinistas também discordariam comigo nisso.[10]

É interessante observar que, nem mesmo Deus possui livre-arbítrio, visto que é impossível que Ele escolha fazer algo contrário à sua inclinação moral. Pergunto: Por que Adão teria? Se afirmarmos que Adão possuía livre-arbítrio, que seja entendido como liberdade em relação a outros seres e coisas que não Deus. Em Efésios 1.11, o apóstolo Paulo, falando sobre a predestinação, afirma que Deus“faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade”. Registre-se que o verbo traduzido como “faz” é o verbo energeo, de onde vêm as palavras “energizar” e “energia”, que por sua vez é uma propriedade positiva. O ponto, é que Deus energiza todos os acontecimentos do cosmos criado, incluindo o episódio edênico. Em Atos dos Apóstolos encontramos o mesmo conceito, quando Paulo, fazendo uso da letra de uma canção do grego Arato em homenagem a Zeus, assevera acerca do verdadeiro Deus: “pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos” (17.28). Não existe nenhum movimento à parte de Deus. Nem mesmo Adão possuiu tal prerrogativa. Afirmar o contrário seria ser incoerente com a doutrina da absoluta soberania de Deus! A forma como Mc Gregor Wright coloca a questão é interessante:

Como pode uma vontade puramente espontânea (“automovida”) começar uma ação? Se a vontade é “neutra” e não predeterminada para agir de um modo ou de outro, o que faz com que ela aja? Se ela parte do neutro, como ela pode sair desse centro morto? Se é dito que a vontade é “induzida” ou “levada” ou “influenciada” para agir, devemos insistir que essas são meramente palavras para diferentes tipos de causação.[11]

O filósofo reformado e pressuposicionalista Gordon Clark cita alguns exemplos de passagens bíblicas que mostram, de maneira inequívoca, que Deus exerce controle sobre a vontade dos seres humanos e predestina suas escolhas[12]: Êxodo 34.24; 2 Samuel 17.14; 2 Crônicas 10.15 e Filipenses 2.12,13.

Muitos teólogos se sentem desconfortáveis com isso, pois veem como algo incompatível com a sua natureza santa, o fato de Deus decretar a escolha de Adão e Eva. Nesse ponto, apenas confessamos a doutrina da Incompreensiblidade de Deus. Não compreendemos as razões últimas dos decretos divinos. Não obstante, não podemos negar sua onipotência e soberania sobre todos os eventos do cosmos. Negar a soberania divina é abraçar a ideia de Platão, que negava que Deus[13] era a causa primeira de todas as coisas. Eis suas palavras:

Deus, uma vez que é bom, não poderia ser a causa de tudo, como diz a maioria das pessoas, mas causa apenas de um pequeno número das coisas que acontecem aos homens, e sem culpa do maior número delas. Com efeito, os nossos bens são menos do que os males, e, se a causa dos bens a ninguém mais se deve atribuir, dos males têm de se procurar outros motivos, mas não o deus.[14]

Temos aqui uma negação clara de Deus como a causa primeira de todas as coisas! Deus é soberano! Como coloca Gordon Clark, “o que quer que Ele faça é justo, por essa mesma razão, porque Ele o fez”.[15]

Para encerrar minhas considerações a respeito do suposto livre-arbítrio de Adão e Eva, gostaria de enfatizar que em nenhum lugar a Bíblia o afirma. Ele apenas é pressuposto, mas não é provado. Isso se dá a partir de Gênesis 2.16,17, quando Deus ordena ao homem: “De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás”. Afirma-se que, se Deus deu essa ordem, é porque Adão tinha a capacidade de fazer o contrário. Acontece, que não existe na passagem nenhum indicativo de que Adão estivesse imbuído de tal capacidade. O propósito da ordem dada pelo Senhor a Adão era torná-lo responsável pela escolha decretada na eternidade. O fato de Deus dar essa ordem não implica dizer que Adão era capaz de contrariá-la. Implica dizer que, ele era responsável diante de Deus. Tal entendimento não se coaduna com a teoria do livre-arbítrio de Adão, pois “a teoria do livre-arbítrio destrói a responsabilidade mais do que a apoia”[16], ou, como observa Ronald Nash:“Comportamento errático, impulsivo e ao acaso não é livre nem responsável”.[17]

III – Livre arbítrio na glória?

O questionamento acerca da “restauração” do Livre-Arbítrio na glória está permeado pela pressuposição de que ele existiu no Éden. Nesse ponto, não divirjo dos demais estudiosos reformados. Todos são unânimes em afirmar que por ocasião da consumação de todas as coisas, quando Jesus retornar, o homem será plenamente glorificado, ou seja, todo traço de pecado e de imperfeição será eliminado tanto da sua vida quanto da criação.

Todas as faculdades constituintes do ser humano (intelecto, vontade, afeições) serão glorificadas. Por causa do pecado, todo o ser do homem “está contaminado pelo pecado, inclusive sua vontade, que agora é escrava deste maldito vício”.[18] Na vida por vir a nossa liberdade será plenamente aperfeiçoada. O Pai da Igreja, Aurélio Agostinho, bispo de Hipona, afirmou que estaremos no estado non posse peccare, que significa “não posso pecar”. Em razão da nossa glorificação final, nossa vontade não se inclinará para aquilo que é mau e corrupto. Ela se inclinará inteira e absolutamente para aquilo que é bom, puro, santo e reto. O apóstolo Paulo expressou sua esperança, quando delclarou:“Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus” (Romanos 8.20,21). As afirmações do apóstolo João, em Apocalipse reforçam esse pensamento: “Nela, nunca jamais penetrará coisa alguma contaminada, nem o que pratica abominação e mentira, mas somente os inscritos no livro da vida do Cordeiro” (21.27); “Nunca mais haverá qualquer maldição. Nela, estará o trono de Deus e do Cordeiro. Os seus servos o servirão, contemplarão a sua face, e na sua fronte está o nome dele. Então, já não haverá noite, nem precisam eles de luz de candeia, nem da luz do sol, porque o Senhor Deus brilhará sobre ele, e reinarão pelos séculos dos séculos”(22.3-5). Observe outras passagens, como: Efésios 4.13; Judas 24; 1 João 3.2.

Com isso em mente, afirmo que, na glória, “seremos enfim totalmente livres”[19], mas continuaremos a possuir apenas a livre-agência. Agiremos consoante nossa inclinação dominante. E, uma vez que nossa inclinação será completa e totalmente para o bem, faremos apenas o bem. Esse é o ensinamento da afirmação da Confissão de Fé de Westminster“É no estado de glória que a vontade do homem se torna perfeita e imutavelmente livre para o bem só”.[20] Concluo com a essência do comentário de Archibald Alexander Hodge sobre esse trecho da Confissão:

4. Quanto ao estado dos homens glorificados no céu, nossa Confissão ensina que continuam, como antes, agentes livres; contudo, os restos de suas velhas tendências morais corruptas, sendo extirpadas para sempre, e as graciosas disposições implantadas na regeneração, sendo aperfeiçoadas, e o homem todo, sendo conduzido à medida da estatura do varão perfeito, à semelhança da humanidade glorificada de Cristo, permanecem para sempre perfeitamente livres e imutavelmente dispostos à perfeita santidade. Adão era santo e instável. Os homens não regenerados são impuros e estáveis; isto é, são permanentes na impureza. Os homens regenerados possuem duas tendências morais opostas, digladiando-se pelo domínio em seus corações. São lançados entre elas, contudo a tendência graciosamente implantada gradualmente por fim prevalece perfeitamente. Os homens glorificados são santos e estáveis. São todos livres e, portanto, responsáveis.[21]

A Deus seja a glória pelos séculos dos séculos!

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Notas:
[1] Leandro Antonio de Lima, Razão da Esperança: Teologia para hoje, (São Paulo: Cultura Cristã, 2006), 97.
[2] Charles Hodge, Teologia Sistemática, (São Paulo: Hagnos, 2001), 699.
[3] R. K. Mc Gregor Wright, A Soberania Banida: Redenção para a cultura pós-moderna, (São Paulo: Cultura Cristã, 1998), 48.
[4] Ibid, 47.
[5] A CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER, IX, 2, (São Paulo: Cultura Cristã, 2003), 87.
[6] Héber Carlos de Campos, Curso de Antropologia Bíblica, 22. Material não publicado. Apostila da disciplina de Antropologia Bíblica do Curso de Teologia, Validação, pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.
[7] Leandro Antonio de Lima, Razão da Esperança: Teologia para hoje, 99.
[8] Héber Carlos de Campos, Anotações das aulas da disciplina de Antropologia Bíblica.
[9] Vincent Cheung, Ofertas Voluntárias e Livre-Arbítrio, 2. Artigo extraído do site: http://www.monergismo.com.
[10] Vincent Cheung, O Autor do Pecado, (2005), 17,18. Extraído do site: http://www.monergismo.com.
[11] R. K. Mc Gregor Wright, A Soberania Banida: Redenção para a cultura pós-moderna, 53.
[12] Gordon H. Clark, What Do Presbyterians Believe?, (Phillipsburg, NJ: Presbyterian and Reformed Publishing, 1981), 108.
[13] Deve ser notado que na discussão atribuída por Platão a Sócrates e Glauco, o termo “Deus” faz referência a Zeus. Apesar disso, a ideia elencada aqui demonstra o pensamento de muitos a respeito da soberania de Deus.
[14] Platão, A República, Livro II, (São Paulo: Martin Claret, 2009), 68.
[15] Gordon H. Clark, Determinismo e Responsabilidade, 9. Artigo extraído do site: http://www.monergismo.com.
[16] R. K. Mc Gregor Wright, A Soberania Banida: Redenção para a cultura pós-moderna, 52.
[17] Ronald Nash, Questões Últimas: uma introdução à Filosofia, (São Paulo: Cultura Cristã, 2008), 363.
[18] Franklin Ferreira e Alan Myatt, Teologia Sistemática, (São Paulo: Vida Nova, 2007), 459.
[19] Anthony Hoekema, Criados à imagem de Deus, (São Paulo: Cultura Cristã, 1999), 268.
[20] A CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER, IX, 2, 91.
[21] A. A. Hodge, Confissão de Fé Westminster Comentada por A. A. Hodge, (São Paulo: Os Puritanos, 1999), 227.

Sobre o autor: Alan Rennê é Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico do Nordeste, em Teresina (2005); Bacharel em Teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2009); Mestrando em Teologia (Sacrae Theologiae Magister) com concentração em Estudos Históricos e Teológicos e linha de pesquisa em Teologia Sistemática no Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper; pastor presbiteriano, atualmente sirvo como pastor-auxiliar na Igreja Presbiteriana de Tucuruí-PA, servo de Cristo Jesus e comprometido com a boa e saudável teologia reformada. Com isso quero dizer que sou partidário dos princípios teológicos, litúrgicos e práticos da teologia puritana. Além de ser Amilenista, Pressuposicionalista e defensor do Princípio Regulador do Culto.



quinta-feira, 6 de março de 2014

A IGREJA VERSUS O MUNDO

Irmãos, não vos maravilheis se o mundo vos odeia. (1Jo 3.13)

Por que os evangélicos tentam tão deses­peradamente cortejar o favor do mundo? As igrejas planejam seus cultos de adoração para servir aos "sem-igreja". Os produtores cristãos imitam a coqueluche mundana do momento em termos de música e entretenimento. Os pregado­res se sentem aterrorizados de que a ofensa do evangelho possa fazer alguém se voltar contra eles; então deliberadamente omitem partes da mensagem que o mundo pode não se agradar.

O movimento evangélico parece ter sido sabotado por legiões de falsos especialistas mun­danos que estão empenhados em tentar fazer o melhor que podem para convencer o mundo de que a igreja pode ser tão inclusiva, pluralista e de mente aberta quanto a mais politicamente correta pessoa mundana.

A busca pela aprovação do mundo é nada mais, nada menos que adultério espiritual. Na verdade, isto é precisamente a imagem que o apóstolo Tiago usou para descrevê-la. Ele escreveu, "Infiéis [NKN: "adúlteros e adúlteras"], não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus" (Tg 4.4).

Existe e sempre existiu uma incompati­bilidade fundamental, irreconciliável entre a igreja e o mundo. O pensamento cristão é totalmente desarmônico com todas as filosofias da História. A fé genuína em Cristo implica numa negação de todo valor mundano. A verdade bíblica contradiz todas as religiões do mundo.

O próprio Cristianismo é, portanto, virtualmente contrário a tudo o que este mundo admira.

Jesus disse a seus discípulos, "Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. Se vós fosseis do mundo, o mun­do amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhei, por isso, o mundo vos odeia" (Jo 15.18,19).

Observe que o nosso Senhor considerou como certo que o mundo desprezaria a igreja. Longe de ensinar a seus discípulos a que tentas­sem ganhar o favor do mundo, reinventando o evangelho para se adequar às suas preferências, Jesus expressamente advertiu que a busca pelas aclamações mundanas é uma característica dos falsos profetas: "Ai de vós, quando todos vos louvarem' Porque assim procederam seus pais com os falsos profetas" (Lc 626).

Ele foi mais longe, "Não pode o mundo odiar-vos, mas a mim me odeia, porque eu dou testemunho a seu respeito de que as suas obras são más" (Jo 7.7). Em outras palavras, o desprezo do mundo pelo Cristianismo deriva de motivos morais, não intelectuais: "O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más. Pois todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e não se chega para a luz, a fim de não serem argüidas as suas obras" (Jo 3.19,20). É por esta razão que, não importa quão dramaticamente a opinião do mundo possa vir a variar, a verdade cristã não será jamais popular ao mundo.

Contudo, virtualmente em toda época da história da igreja, tem havido gente na igreja que está convencida de que a melhor maneira de ganhar o mundo é satisfazer os seus gostos. Tal tipo de abordagem tem sempre sido em de­trimento da mensagem do evangelho. As únicas vezes que igreja causou impacto significativo sobre o mundo foi quando o povo de Deus per­maneceu firme, se recusou a compactuar e ou­sadamente proclamou a verdade apesar da hos­tilidade do mundo. Quando os cristãos se des­viam da tarefa de confrontar os enganos do mundo com as impopulares verdades bíblicas, a igreja invariavelmente perde sua influência e impotente se mescla ao mundo. Tanto as Escri­turas quanto a História atestam esse fato.

E a mensagem cristã simplesmente não pode ser torcida para se conformar com a ins­tabilidade da opinião do mundo. A verdade bíblica é fixa e constante, não sujeita a mudança ou adaptação.

A opinião do mundo, por outro lado, está sempre em fluxo constante. Os vários mo­dismos e filosofias mudam radicalmente e regularmente de geração para geração. A única coisa que permanece constante no mundo é seu ódio por Cristo e seu evangelho.

Ao que tudo indica, o mundo não abraça­rá por muito tempo qualquer das ideologias que estão atualmente em voga. Se a História servir como indicador, quando nossos netos se toma­rem adultos a opinião do mundo terá sido dominada por um sistema completamente novo de crenças e um conjunto de valores totalmente di­ferente. A geração de amanhã renunciará a todas os modismos e filosofias de hoje, mas uma coisa permanecerá imutável: até que o Senhor mesmo volte, seja qual for a ideologia que ganhe popularidade no mundo, ela será tão hostil às verdades bíblicas corno o foram todas as precedentes.

MODERNISMO


Pense no que aconteceu no século passado, por exemplo. Cem anos atrás a igreja es­tava ameaçada pelo modernismo.

Modernismo era urna cosmovisão baseada na noção de que somente a ciência podia explicar a realidade. O modernista, com efeito, começou com a pressu­posição de que nada sobrenatural é real.

Deveria ter ficado instantaneamente óbvio que o modernismo e o Cristianismo eram incom­patíveis no nível mais básico. Se nada sobrena­tural era real, então grande parte da Bíblia seria falsa e sem autoridade; a encarnação de Cristo seria um mito (anulando a autoridade de Cristo também); e todos os elementos sobrenaturais do Cristianismo, incluindo o próprio Deus, teriam de ser totalmente redefinidos em termos naturalistas. O modernismo foi anticristão até à sua medula.

Não obstante, a igreja visível no começo do século 20 ficou cheia de gente que estava con­vencida de que modernismo e Cristianismo po­diam e deviam ser conciliados. Eles insistiam que se a igreja não acompanhasse o passo com dos tempos, abraçando o modernismo, o Cristianismo não sobreviveria ao século 20. A igreja se tornaria paulatinamente irrelevante para o povo mo­derno, eles diziam, e logo desapareceria. Assim sendo, eles inventaram um "evangelho social" desprovido do verdadeiro evangelho da salvação.

Naturalmente, o Cristianismo bíblico sobreviveu o século 20 muito bem, obrigado. Nos lu­gares onde os cristãos permaneceram comprome­tidos com a verdade e autoridade das Escrituras, a igreja floresceu, mas, ironicamente, aquelas igrejas e denominações que abraçaram o moder­nismo foram as que se tornaram pouco a pouco irrelevantes e desapareceram antes do fim do século. Muitos edifícios de pedra, grandiosos, mas quase vazios, dão testemunho da fatalidade da conformação com o modernismo.

POS-MODERNISMO


O modernismo é agora considerado como um modo de pensar do passado. A cosmovisão dominante tanto no círculo secular quanto no acadêmico atualmente é chamada de pós-moder­nismo. Os pós-modernistas têm repudiado a confiança absoluta dos modernistas na ciência como único caminho para a verdade.

Na realidade os pós-modernistas perderam completamente o interesse pela "verdade", insistindo que não existe tal coisa como verdade absoluta ou universal.

O modernismo era de fato asneira e preci­sava ser abandonado, mas o pós-modernismo é um passo trágico na direção errada. Ao contrário do modernismo, que estava ainda preocupado com a possibilidade de convicções básicas, crenças e ideologias serem objetivamente verdadeiras ou falsas, o pós-modernismo simplesmente nega que qualquer verdade possa ser objetivamente conhecida.

Para o pós-modernista a realidade é o que o indivíduo imagina que seja. Isso significa que o que é "verdadeiro" é determinado subjetiva­mente por cada um, e não existe tal coisa como a chamada verdade objetiva, com autoridade que governa ou se aplica universalmente a toda humanidade. O pós-modernista acredita natural­mente que não faz sentido debater se a opinião A é superior à opinião B. No final de contas, se a realidade é meramente uma invenção da mente humana a perspectiva de verdade de uma pessoa é afinal tão boa quanto a de outra.

Tendo desistido de conhecer a verdade ob­jetiva, o pós-modernista se ocupa em lugar disso, com a busca para "entender" o ponto de vista da outra pessoa. Então as palavras "verdade" e "compreensão" tomam significados radicalmente novos. Ironicamente, "compreensão" requer que primeiro de tudo desacreditemos na possibilidade de conhecer qualquer verdade afinal. E "verdade" se torna nada mais do que uma opinião pessoal, geralmente melhor guardada para si mesmo.

Essa é uma exigência essencial, não nego­ciável que o pós-modernismo faz a todo mundo: nós não devemos pensar que conhecemos qual­quer verdade objetiva. Os pós-modernistas fre­qüentemente sugerem que toda opinião deveria receber igual respeito. E, portanto, numa visão superficial, o pós-modernismo parece movido por uma preocupação pela mente aberta para se chegar à harmonia e tolerância. Tudo soa mui­to caridoso e altruísta, mas o que realmente subli­nha o sistema de crenças pós-modernistas é uma intolerância total por toda cosmovisão que faça alegações de qualquer verdade universal ­particularmente o Cristianismo bíblico.

Em outras palavras, o pós-modernismo começa com uma pressuposição que é irreconciliável com a verdade objetiva, divinamente revelada nas Escrituras. Da mesma forma que o modernismo, o pós-modernismo é fundamental e diametralmente oposto ao evangelho de Jesus Cristo.

PÓS-MODERNISMO E A IGREJA


Não obstante, a igreja atualmente está cheia de gente que advoga idéias pós-modernistas. Alguns deles fazem isso consciente e deliberadamente, mas a maioria o faz sem querer (Tendo embebido demasiado do espírito dos tempos, eles estão simplesmente regurgitando opiniões do mundo). O movimento evangélico como um todo, ainda se recuperando de sua longa batalha contra o modernismo, não está preparado para um adversário novo e diferente. Muitos cristãos, portanto, não reconheceram ainda o perigo extremo colocado pelo pensamento pós-modernista.

A influência pós-modernista claramente já infecta a igreja. Os evangélicos estão baixando o tom da sua mensagem para que as rígidas alegações de verdades do evangelho não soem tão desagradáveis aos ouvidos pós-modernos. Muitos evitam fazer afirmações inequívocas de que a Bíblia é verdadeira e todos os outros sistemas religiosos do mundo são falsos. Alguns que se intitulam cristãos foram ainda mais longe, determinadamente negando a exclusividade de Cristo e abertamente questionando sua alegação de ser ele o único caminho para Deus.

A mensagem bíblica é clara. Jesus disse, "Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim" (Jo 14.6). O apóstolo Pedro proclamou a uma audiência hostil, " ... não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos" (At 4.12). O apóstolo João escreveu, " . quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus" (Jo 3.36). Repetidas vezes as Escrituras enfatizam que Jesus Cristo é a única esperança de salvação para o mundo. " ... há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem" (1Tm 2.5). Somente Cristo pode expiar pecados e, portanto, somente Cristo pode dar salvação. " ... o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no seu Filho. “Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida" (1Jo 5.11,12).

Essas verdades são contrárias à doutrina central do pós-modernismo. Elas fazem alegações de verdade exclusivas, universais, declarando ser Cristo o único caminho para o céu e errôneos todos os outros sistemas de crença. Isto é o que as Escrituras ensinam. É o que a igreja verdadeira tem proclamado ao longo de toda sua história. É a mensagem do Cristianismo. E simplesmente não pode ser ajustado para acomodar as sensibilida­des pós-modernas. Em vez disso, muitos cristãos simplesmente vão passando por cima das alega­ções exclusivas de Cristo, debaixo de um silêncio constrangedor. Pior ainda, alguns na igreja — incluindo alguns dos mais conhecidos lideres evan­gélicos — começaram a sugerir que talvez o povo possa ser salvo fora do conhecimento de Cristo.

Os cristãos não podem capitular ao pós ­modernismo sem sacrificar a essência da nossa fé. A alegação da Bíblia de que Cristo é o único caminho da salvação está certamente em desarmonia com a noção pós-moderna de "tolerância", mas é, no final de contas, exatamente o que a Bíblia claramente ensina. E a Bíblia, não a opinião pós-moderna, é a autoridade suprema para o cristão. Somente a Bíblia deve determinar o que nós cremos e proclamar isso ao mundo. Nós não podemos abrir mão disso, não importa quanto o mundo pós-modernista reclame que nossas crenças fazem de nós pessoas "intolerantes".

TOLERÂNCIA INTOLERANTE


A veneração da tolerância pelo pós-mo­dernista é uma característica óbvia, mas essa versão da "tolerância" é, na verdade, uma dis­torção perigosa da verdadeira virtude. Aliás, tole­rância nunca é mencionada na Bíblia como uma virtude, exceto no sentido de paciência, longanimidade e mansidão (ver Ef 4.2). De fato, a noção contemporânea de tolerância é um conceito pateticamente fraco comparado ao amor que as Escrituras ordenam aos cristãos que mostrem aos seus inimigos. Jesus disse, "amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam; bendizei aos que vos maldizem, orai pelos que vos caluniam" (Lc 6.27,28; confira os versículos 29-36).

Quando nossos avós falaram de tolerância como uma virtude, eles tinham isso em mente. A palavra então significava respeitar as pessoas e tratá-las com bondade mesmo quando acreditamos que elas estão erradas, mas a noção pós moderna de tolerância significa que nós nunca devemos considerar a opinião de ninguém como errada. A tolerância bíblica é para as pessoas; a tolerância pós-moderna é para idéias.

Aceitar toda crença como igualmente válida dificilmente é uma virtude real, mas é praticamente o único tipo de virtude que o pós-mo­dernismo conhece. As virtudes tradicionais (incluindo humildade, domínio próprio e castidade) são abertamente zombadas e até mesmo consideradas como transgressões, no mundo do pós-modernismo.

Previsivelmente a beatificação da tolerância pós-moderna tem tido seus efeitos desastrosos sobre a verdadeira virtude em nossa sociedade. Nestes tempos de tolerância, o que era proibido passou a ser encorajado. O que era tido como imoral é agora festejado. Infidelidade marital e divórcio foram normalizados. Impureza é o lugar comum. Aborto, homossexualidade e perversões morais de todos os tipos são aclamados por grandes grupos e entusiasticamente promovidos pela mídia popular. A noção pós-moderna de tolerância está sistematicamente virando virtude genuína na cabeça deles.

Praticamente a única coisa a ser rejeitada pela sociedade como maligna é a noção simplória e politicamente incorreta que o estilo de vida, religião, ou perspectiva diferente de outra pessoa é incorreto.

Uma exceção notável àquela regra se destaca claramente: os pós-modernistas aceitam a intolerância se for contra aqueles que alegam conhecer a verdade, particularmente os cristãos bíblicos. De fato, aqueles que se proclamam os advogados líderes de tolerância atualmente são freqüentemente os oponentes mais declarados do Cristianismo evangélico.

Basta dar uma olhada na Internet, por exemplo, e veja o que está sendo dito pelos autoestilizados campeões de tolerância religiosa. O que você vai encontrar é uma grande quantidade de intolerância pelo Cristianismo bíblico. Na verdade, alguns dos materiais mais amargos anticristãos na Internet podem ser encontrados em sites supostamente promovendo a tolerância religiosa.!

Por que isso? Por que o Cristianismo bíblico autêntico depara com tal feroz oposição de pes­soas que pensam ser modelos de tolerância? É porque as alegações de verdade das Escrituras e particularmente as alegações de Jesus de ser o único caminho para Deus — são diametralmente opostos às pressuposições fundamentais da mente pós-moderna. A mensagem cristã representa um golpe fatal à cosmovisão pós-modernista.

Mas se os cristãos se deixam enganar ou são intimidados a suavizar as alegações diretas de Cristo e a alargar o caminho estreito, a igreja não fará qualquer progresso contra o pós-modernismo. Nós precisamos recuperar a distinção do evangelho. Precisamos reconquistar nossa confiança no poder da verdade de Deus. E nós precisamos proclamar com ousadia que Cristo é a única verdadeira esperança para o povo deste mundo.

Isso pode não ser o que o povo quer ouvir neste tempo pseudo-tolerante do pós-mo­dernismo, mas é verdade assim mesmo. E precisamente porque é verdade e o evangelho de Cristo é a única esperança para um mundo perdido é que é ainda mais urgente levantarmos acima de todas as vozes de confusão no mundo e dizer desta forma.

O restante deste livro irá examinar seis conceitos chaves que explicam a distinção do Cristianismo. São princípios que totalmente con­tradizem a sabedoria convencional do pós- modernismo, mas eles são componentes essenciais de uma cosmovisão bíblica. Esses seis princípios, definidos por seis palavras-chave, se elevam uns sobre os outros e se interligam de tal modo que permanecem em pé ou caem juntos. Eles nos dão a estrutura necessária para o pensamento, para entendermos o mundo à nossa volta e para ministrarmos neste tempo pós-moderno.


Fonte: Princípios para uma Cosmovisão Bíblica (cap. 1 - pp. 7-16), John MacArthur, Jr. – Ed. Cultura Cristã. 



O QUE O CESSACIONISMO NÃO É

Por Nathan Busenitz

Muito barulho foi feito (nesse blog e em outro lugar) sobre os recentes comentários anti-cessacionistas feitos por um pastor popular de Seattle. Não desejo começar uma guerra de palavras ou me envolver numa polêmica online. Apenas espero fazer uma contribuição útil a esse tema.

Nos últimos anos, investiguei o registro histórico sobre os dons carismáticos, especialmente o dom de línguas. Espero que o pastor citado, e seu co-autor, tratem o material de forma responsável em seus futuros trabalhos sobre o assunto (Quem sabe, talvez eles poderiam estar abertos a um livro com dois pontos de vista?)

Além disso, também espero que, ao criticar a posição cessacionista, os autores não criem uma caricatura do cessacionismo. (Vou admitir que, com base no que li até agora, tenho medo de que a caricatura já esteja em construção.)

Contudo, em um esforço para desmantelar uma deturpação falaciosa antes de ser construída, ofereço os quatro seguintes esclarecimentos sobre o que o cessacionismo não é:

1. Cessacionismo não é contra o sobrenatural e nem nega a possibilidade dos milagres.

Quando se trata de compreender a posição cessacionista, a questão não é se Deus continua a fazer milagres hoje? Cessacionistas reconheceriam prontamente que Deus pode agir a qualquer momento e da maneira que Ele escolher. John MacArthur explica que: 

Milagres na Bíblia (primariamente) ocorreram em três grandes períodos de tempo. O tempo de Moisés e Josué, o tempo de Elias e Eliseu, e o tempo de Cristo e os apóstolos. E durante esses três breves períodos de tempo, e somente neles, os milagres proliferaram; eles eram a norma, eram em abundância. Agora, Deus pode interpor-Se no fluxo humano sobrenaturalmente a qualquer hora que Ele quiser. Nós não o limitamos. O que simplesmente dizemos é que Ele escolheu limitar a Si mesmo em grande medida àqueles três períodos de tempo.

Assim, o cessacionismo não nega a realidade de que Deus pode fazer o que Ele quiser, sempre que Ele quiser. (Salmo 115:3). O cessacionismo não coloca Deus numa caixa ou limita sua prerrogativa soberana.

Ele reconhece que havia algo único e especial sobre o período e realização de milagres que definiu os ministérios de Moisés e Josué, Elias e Eliseu, e Cristo e seus apóstolos. Além disso, ele reconhece o fato aparentemente óbvio que esses tipos de milagres (como a divisão do mar, a interrupção da chuva, a ressurreição dos mortos, o andar sobre a água, ou a cura instantânea de coxos e cegos) não estão ocorrendo hoje.

Assim, os cessacionistas concluem que:

A era apostólica foi maravilhosamente única e está finalizada. E o que aconteceu nesse tempo, portanto, não é o paradigma para a vida cristã. O paradigma para a vida cristã é estudar a Palavra de Deus, que é capaz de nos tornar sábios e perfeitos. (Isto) é viver pela fé e não por vista.  (Ibid.)

Mas, será que Deus ainda pode fazer coisas extraordinárias no mundo de hoje? Certamente que sim, se Ele escolher. Na verdade, cada vez que os olhos de um pecador são abertos para evangelho, e uma nova vida em Cristo é criada, isto nada mais é do que um milagre.

Em seu útil livro, Continua? Samuel Waldron habilmente expressa a posição cessacionista desta forma: 102):

Não estou negando os milagres no mundo de hoje no sentido mais amplo de ocorrências sobrenaturais e providências extraordinárias. Estou apenas dizendo que não existem milagres no sentido mais estrito dos operadores de milagres, que se utilizam de sinais miraculosos para atestar a revelação redentora de Deus. Embora Deus nunca tenha se colocado para fora do Seu mundo, e ainda tenha liberdade para fazer o que Lhe apraz, quando Lhe apraz, como Lhe apraz, e onde Lhe apraz, Ele deixou claro que o progresso da revelação redentora, atestada por sinais miraculosos feitos por operadores de milagres, terminou na revelação apresentada no Novo Testamento.

Portanto, a questão não é: Deus ainda faz milagres?  

Em vez disso, a questão definitiva deve ser esta: Os dons miraculosos do Novo Testamento continuam operando hoje na igreja de tal forma que o que era norma nos dias de Cristo e dos apóstolos  deva ser esperado hoje?

A isso, todo cessacionista responderia que "não".

2. O Cessacionismo não é fundamentado em uma única interpretação do "perfeito" em I Coríntios 13:10.

Com relação a esse assunto, parece que existe tantas abordagens sobre “o perfeito” entre os eruditos cessacionistas quanto existem comentaristas que escrevem a respeito de 1 Coríntios 13:8-13. O espaço desse artigo não permite uma investigação completa sobre o tema, mas somente uma rápida explanação das principais posições.

As diferentes visões

(1) Alguns (como F.F. Bruce) argumentam que o próprio amor é o perfeito. Assim, quando a plenitude do amor vier, os coríntios deixarão seus desejos infantis.

(2) Alguns (como B.B. Warfield) afirmam que o cânon completo da Escritura é o perfeito. A Escritura é descrita como perfeita em Tiago 1:25, um texto em que a mesma palavra para “espelho” (como no v. 12) é encontrada (em Tiago 1:23). Assim, a revelação parcial será aniquilada quando chegar a plena revelação da Escritura. 

(3) Alguns (como Robert Thomas) afirmam que a maturidade da igreja é o perfeito. Esta abordagem é baseada na ilustração do verso 11 e a conexão entre esta passagem e Ef. 4:11–13. O momento exato da "maturidade" da igreja é desconhecido, embora esteja muito associada ao fechamento do cânon e o fim da era apostólica. (cf. Ef.  2:20).

(4) Alguns (como Thomas Edgar) veem a condução do crente à presença de Cristo (no momento da morte) como o perfeito. Esta perspectiva considera o aspecto pessoal da afirmação paulina no verso 12. A experiência pessoal de Paulo do pleno conhecimento quando ele for conduzido a presença de Cristo em sua morte. (cf. 2 Co. 5:8).

(5) Alguns (como Richard Gaffin) veem o retorno de Cristo (e o fim desta era) como o perfeito. Este é o mesmo ponto de vista da maioria dos continuístas. Assim, quando Cristo voltar (como descrito no capítulo 15), a revelação parcial, como nós conhecemos agora, será completada.

(6) Alguns (como John MacArthur) compreendem o estado eterno (no sentido geral) como o perfeito. Esta posição interpreta o neutro de to teleion como uma referência ao sentido geral dos eventos e não ao retorno pessoal de Cristo. Esta perspectiva combina as posições 4 e 5, citadas acima. De acordo com esta perspectiva: "Para os cristãos, o estado eterno inicia na morte, quando se encontram com o Senhor ou no arrebatamento, quando o Senhor o tomar para Si." (John MacArthur, Primeira Coríntios, p. 366).

Destas perspectivas, eu acho as três ultimas mais convincentes do que as três primeiras. Isto se deve principalmente, (eu confesso) ao testemunho da história da igreja. Dr. Gary Shogren, após um profundo estudo de mais de 169 referências patrísticas a esta passagem, conclui que a vasta maioria dos Pais da Igreja entendiam o perfeito como algo que está além desta vida (normalmente associando-o com o retorno de Cristo ou ao retorno de Cristo no céu. Até mesmo João Crisóstomo (que era claramente um cessacionista) via desta maneira. Embora não seja determinante, tal evidência histórica é de difícil rejeição.

Em todo caso, meu ponto aqui é simplesmente este: O intérprete pode tomar qualquer uma das posições acima e ainda permanecer cessacionista. De fato, existem cessacionistas sustentando cada uma das posições listadas (como os nomes listados indicavam).

Deste modo, Anthony Thiselton observa em seu comentário sobre esta passagem: "O único ponto importante aqui é que poucos ou nenhum dos argumentos dos “cessacionistas” sérios dependem de uma exegese específica de 1 Cor 13:8-11. Estes versos não devem ser usados como polêmica em nenhum dos lados neste debate " (NIGTC, pp 1063-1064). 1063–64).

3. Cessacionismo não é um ataque à Pessoa ou à obra do Espírito Santo.

Na verdade, apenas o oposto é verdadeiro. Cessacionistas são motivados pelo desejo de ver o Espírito Santo glorificado. Eles estão preocupados que, ao redefinir os dons, a posição continuísta barateie a natureza extraordinária dos dons, diminuindo a verdadeira obra miraculosa do Espírito nos estágios iniciais da igreja.

Cessacionistas estão convencidos de que, redefinindo a cura, a posição carismática apresenta um mau testemunho para o mundo ao ver que o doente não está curado. Redefinindo o dom de línguas, a posição carismática promove um tipo de jargão absurdo que vai contra tudo o que sabemos sobre o dom bíblico. Redefinindo o dom de profecia, a posição carismática dá credibilidade para aqueles que afirmam falar as palavras de Deus e ainda incorrem em erro. 

Portanto, esta é a principal preocupação dos cessacionistas: Que a honra do Deus Triuno e Sua Palavra sejam exaltadas – e que ela não seja banalizada por fracos substitutos.

E o que fazemos para saber se algo é autêntico ou não? Através de sua comparação com o testemunho escrito das Escrituras. Será que ao irmos para a Bíblia para definirmos os dons significa que estamos desprezando o Espírito Santo? Muito pelo contrário. Quando examinamos as Escrituras, estamos indo ao próprio testemunho do Espírito Santo para descobrir que Ele revelou os dons que Ele concedeu.

Como cessacionista, eu amo o Espírito Santo. Nunca iria querer fazer qualquer coisa para desacreditar sua obra, diminuir os seus atributos, ou minimizar o seu ministério. Nem iria querer perder nada do que Ele esteja fazendo na igreja de hoje.  E eu não sou o único cessacionista que se sente assim.

Porque amamos o Espírito Santo pela incrível e contínua obra do Espírito no corpo de Cristo. Suas obras de regeneração, habitação, batismo, selo, segurança iluminação, convencimento, confrontamento, confirmação, enchimento, e capacitação são todos os aspectos indispensáveis de seu ministério.

Porque amamos o Espírito Santo, somos motivados a estudar as Escrituras que Ele inspirou para aprender a andar de modo digno, sendo caracterizado pelo seu fruto. Ansiamos ser cheios pelo Espírito (Ef. 5:18) o que começa por sermos cheios de Sua Palavra (Cl 3:16-17) e ser equipados com Sua espada, que é a Palavra de Deus (Ef 6:17).

Finalmente, por causa do amor que temos pelo Espírito Santo, o apresentamos de forma justa, para entender e apreciar seus propósitos (como ele no-lo revelou em Sua Palavra), e alinhar-nos com o que Ele tem feito no mundo. Isto mais do que tudo nos dá razão para estudar a questão dos dons carismáticos (cf. 1Co 12:7-11). Nosso objetivo neste estudo tem que ser mais do que mera correção doutrinária. Nossa motivação deve ser de obter uma compreensão mais precisa da obra do Espírito Santo, de tal forma que possamos melhorar o nosso rendimento no serviço a Cristo, para glória de Deus.

4. Cessacionismo não é um produto do Iluminismo.

Talvez a maneira mais fácil de demonstrar este ponto final é citar os líderes pré-Iluministas cristãos que sustentavam uma posição cessacionista. Afinal, é difícil argumentar que a teologia de João Crisóstomo no século IV foi um resultado do racionalismo europeu do século XVIII.

Finalizando o assunto deste post, aqui estão dez líderes da história da Igreja a se considerar:

João Crisóstomo (c. 344–407):

A passagem inteira (falando sobre 1 Coríntios 12) é muito obscura, mas a obscuridade é produzida por nossa ignorância dos fatos referidos e por sua cessação, fatos que ocorriam, mas agora não tem mais lugar.

(fonte: João Crisóstomo, Homilias em I Coríntios, 36.7 Crisóstomo está comentando 1 Co. 12:1-2 como introdução ao capítulo inteiro. Citado de 1-2 Coríntios in: Ancient Christian Commentary Series, 146.)

Agostinho (354-430):

Nos tempos antigos o Espírito Santo veio sobre os crentes e eles falaram em línguas, que não haviam aprendido, conforme o Espírito concediam que falassem. Estes foram sinais adaptados ao tempo. Pois aquilo foi o sinal do Espírito Santo em todas as línguas [idiomas] para mostrar que o Evangelho de Deus era para ser espalhado a todas as línguas sobre a terra.  Isto foi feito por um sinal, e o sinal findou.

(Fonte: Agostinho. Homilias sobre a Primeira Epístola de João, 6.10. Cf. Schaff, NPNF, First Series, 7:497-98)

Teodoreto de Ciro (c. 393 c. 466):

Em tempos antigos, aqueles que aceitaram a divina pregação e que foram batizados para a sua salvação, receberam sinais visíveis da graça do Espírito Santo trabalhando neles. Alguns falaram em línguas que eles não sabiam e que ninguém lhes havia ensinado, enquanto outros realizaram milagres ou profetizaram.  O coríntios também fizeram essas coisas, mas não usaram os dons como deveriam ter usado. Eles estavam mais interessados em se mostrar do que em usar os dons para a edificação da igreja . . . Mesmo no nosso tempo a graça é dada para aqueles que são julgados dignos do santo batismo, mas não pode assumir a mesma forma que possuía naqueles dias.

(Fonte: Teodoreto de Ciro. Comentário sobra a primeira epístola aos Coríntios, 240, 43; em referência à 1Co 12:1,7.  Citado de 1-2 Coríntios, ACCS, 117).

Nota: Os defensores do continuísmo, como Jon Ruthven (em seu trabalho, sobre a Cessação dos Charismata), também reconhece pontos de vista cessacionistas em outros Pais da Igreja (como Orígenes, no século 3, e Ambrósio no século 4).

Além disso, a esta lista, podemos incluir o nome mais conhecido da Idade Média, o escolástico do século 13, Thomás Aquino.

Mas, vamos avançar para a Reforma e a era Puritana.

Martinho Lutero (1483-1546)

Na Igreja primitiva, o Espírito Santo foi enviado de forma visível.  Ele desceu sobre Cristo na forma de uma pomba (Mt. 3:16), e à semelhança de fogo sobre os apóstolos e outros crentes.  (Atos 2:3) Esse derramamento visível do Espírito Santo foi necessário para o estabelecimento da Igreja primitiva, como também foram necessários os milagres que acompanharam o dom do Espírito Santo. Paulo explicou o propósito destes dons miraculosos do Espírito em I Coríntios 14:22, "as línguas são um sinal, não para os que crêem, mas para os que não crêem".  Uma vez que a Igreja tinha sido estabelecida e devidamente anunciada por estes milagres, a aparência visível do Espírito Santo cessou.

(Fonte: Martinho Lutero, traduzido por Theodore Graebner [Grand Rapids, Michigan: Zondervan, 1949]...., pp  150-172. A respeito do comentário de Lutero sobre Gálatas 4:6.)

João Calvino (1509-1564):

Embora Cristo não declare expressamente se Ele pretende que esse dom [de milagres] seja temporário ou a permaneça perpetuamente na Igreja, é mais provável que os milagres tenham sido prometidos apenas por um tempo, para dar brilho ao evangelho enquanto ele era novo ou em estado de obscuridade.

(Fonte: João Calvino, Comentário sobre os Evangelhos Sinóticos, III:389.)

O dom de cura, como o resto dos milagres, os quais o Senhor quis que fossem trazidos à luz por um tempo, desapareceu, a fim de tornar a pregação do Evangelho maravilhosa para sempre.

(Fonte: João Calvino, Institutas da Religião Cristã, IV: 19, 18.)

John Owen (1616-1683):

Dons que em sua própria natureza excederam completamente o poder de todas as nossas habilidades, essa dispensação do Espírito há muito cessou e onde ela agora é simulada por alguém, pode ser justamente presumida como um delírio entusiasmado.

(Fonte: John Owen, Obras, IV:518.)

Thomas Watson (1620-1686):

Claro, há tanta necessidade de ordenação hoje como no tempo de Cristo e no tempo dos apóstolos, quando então havia dons extraordinários na igreja, os quais agora cessaram.

(Fonte: Thomas Watson, As Bem-Aventuranças, 140.)

Mattew Henry (1662-1714):

O que eram esses dons nos é largamente dito no corpo do capítulo [1 Coríntios 12], ou seja, ofícios e poderes extraordinários, concedidos a ministros e cristãos nos primeiros séculos, para a convicção dos descrentes, e propagação do evangelho.

(Fonte: Mattew Henry, Comentário Completo, em referência a 1 Coríntios 12)

O dom de línguas foi um novo produto do espírito de profecia e dado por uma razão particular, retirar o judeu e demonstrar que todas as nações podem ser conduzidas à igreja. Estes e outros sinais da profecia, começaram como sinais, e há muito cessaram e foram deixados para trás, e nós não temos nenhum incentivo para esperar um avivamento deles; mas, pelo contrário, somos direcionados para o chamado das Escrituras a mais certa palavra de profecia, mais certa que vozes dos céus, e ela nos orienta a tomar cuidado, a busca-la e se firmar nela., 2 Pedro 1:29.

(Fonte: Mattew Henry, Prefácio ao Vol IV de sua Exposição do At e NT, vii.)

John Gill (1697-1771):

[Comentando 1 Coríntios 12:9 e 30,].

Agora esses dons foram concedidos comumente, pelo Espírito, aos apóstolos, profetas e pastores, ou anciãos da igreja, naqueles primeiros tempos: a cópia de Alexandria, ea versão Latina da Vulgata, dizem, "por um só Espírito".

(Fonte: Comentário de John Gill de 1 Coríntios 12:9.)

Não; quando estes dons estavam presentes, nem todos os possuíam.  Quando a unção com óleo, a fim de curar o doente, estava em uso, ela só foi executada pelos anciãos da igreja, e não pelos seus membros comuns, que deveriam buscar o doente nesta ocasião.

(Fonte: Comentário de John Gill de 1 Coríntios 12:30.)

Jonathan Edwards (1703-1758):

Nos dias de sua [Jesus] encarnação, os seus discípulos tinham uma medida dos dons miraculosos do Espírito, sendo habilitados desta forma para ensinar e fazer milagres.  Mas, depois da ressurreição e ascensão, ocorreu o mais completo e notável derramamento do Espírito em seus dons milagrosos que já existiu, começando com o dia de Pentecostes, depois da ressureição Cristo e Sua ascenção ao céu.  E, em conseqüência disto, não somente aqui e ali uma pessoa extraordinária era dotada de dons extraordinários, mas eles eram comuns na igreja, e assim continuou durante a vida dos apóstolos, ou até a morte do último deles, mesmo o apóstolo João, que viveu por cerca de cem anos desde nascimento de Cristo, de modo que os primeiros cem anos da era cristã, ou o primeiro século, foi a era dos milagres.

Mas, logo após a finalização do cânon da Escritura quando o apóstolo João escreveu o livro do Apocalipse, não muito antes de sua morte, os dons miraculosos tiveram seu fim na igreja. Pois, agora, a revelação escrita da mente e da vontade de Deus estava completa e estabelecida. Revelação na qual Deus havia perfeitamente gravado uma regra permanente e totalmente suficiente para Sua igreja em todas as eras.  Com a igreja e a nação judaica derrotadas, e a igreja cristã e a última dispensação da igreja de Deus estabelecidas, os dons miraculosos do Espírito já não eram mais necessários e, portanto, eles cessaram; pois embora eles tenham continuado na igreja por tantas eras, eles se extinguiram, e Deus fez com que fossem extintos porque já não havia ocasião favorável a eles.  E assim foi cumprido o que está dito no texto: “Havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão;. Havendo ciência, desaparecerá".  E agora parece ser o fim para todos os frutos do Espírito tais como estes, e não temos mais razão de esperar que voltem.

(Fonte: Jonathan Edwards, sermão intitulado "O Espírito Santo deve ser comunicado ao Santos para sempre, In na graça da caridade, ou amor divino", em 1 Coríntios 13:8).

Os dons extraordinários foram dados para a fundação e o estabelecimento da igreja no mundo. Mas, depois que o cânon das Escrituras foi concluido e a igreja cristã foi plenamente fundada e estabelecida, os dons extraordinários cessaram.

(Fonte: Jonathan Edwards, Caridade e seus frutos, 29.)

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Poderiamos adicionar a esta lista outros nomes: James Buchanan, R. L. Dabney, Charles Spurgeon, George Smeaton, Abraham Kuyper, William G. T. Shedd, B. B. Warfield. A. W. Pink, e assim por diante. Mas, tem que se admitir, eles são figuras históricas pós-iluministas.

Então, eu acho que é melhor usar seu testemunho em uma outra postagem.

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Traduzido por: Isaias Lobão Pereira Junior. 
Revisado por: Arielle Pedrosa Borges.