Escrito por: John A. Broadus
Porque eu mesmo
desejaria ser anátema, separado de Cristo, por amor de meus irmãos. (Romanos
9.3)
A preocupação
com a salvação dos outros não é anulada pela crença naquilo que chamamos “As
Doutrinas da Graça”. Tal preocupação não diminui por crermos na soberania
divina, na predestinação e na eleição. Muitas pessoas demonstram intensa
antipatia às idéias expressas nestes últimos vocábulos. Recusam-se a
aceitá-las, porque, em suas mentes, tais idéias estão associadas ao conceito de
indiferença apática. Estas pessoas dizem que, se a predestinação é verdadeira,
conclui-se que um homem não pode fazer nada por sua própria salvação; se tiver
de ser salvo, ele o será, não podendo fazer coisa alguma para isso, nem ele nem
qualquer outra pessoa precisa se importar com isso.
Mas isto não é
verdade; eu o provarei mediante o fato de que o próprio Paulo, o grande
porta-voz dessas doutrinas nas Escrituras, pronunciou essas palavras de
interesse e amor ardente, em favor da salvação dos outros, vinculando-as
intimamente às passagens em que ele ensinou as doutrinas da graça. Volte os
seus olhos a algumas frases anteriores a Romanos 9.3 e encontrará a própria
passagem sobre a qual muitos tropeçam. “E aos que predestinou” — muitas pessoas
estremecem ao ouvir essas palavras — “a esses também chamou; e aos que chamou,
a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou” (Rm
8.30).
Apenas um pouco
depois de Paulo ter proferido essas palavras, das quais muitos pretendem
inferir a idéia de que, crendo nelas, o homem não precisa se preocupar com a
sua salvação ou com a salvação dos outros, vieram aquelas palavras cheias de
paixão que constituem nosso versículo texto. E isso não é tudo, pois você
encontrará logo em seguida, o texto onde Paulo falou sobre Esaú e Jacó,
afirmando que Deus estabeleceu uma diferença entre eles, antes mesmo de
nascerem, e onde disse, a respeito de Faraó, que Deus o havia levantado para
demonstrar o Seu poder e declarar o Seu nome em toda a terra. “Logo, tem ele
misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz.” Algumas boas
pessoas chegam a estremecer diante da inferência que lhes parece inevitável de
uma linguagem como esta. Mas eu digo que esta inferência deve estar errada,
pois o homem inspirado, que proferiu essas palavras, apenas alguns momentos
antes havia pronunciado as palavras de nosso versículo texto.
E, sempre que
você perceber que seu coração ou o coração de um amigo está propenso a fugir
desses grandes ensinamentos das Escrituras divinas, com relação à soberania e a
predestinação, então eu oro para que você não discuta sobre isto, mas que se
volte a esse texto bíblico, expresso em linguagem de tão grande preocupação em
favor da salvação dos outros, de forma tão intensamente cheia de paixão, que os
homens se admirarão e certamente dirão que tais palavras não podem significar o
que elas realmente dizem. O problema é que neste caso, e em muitos outros,
tiramos inferências sem fundamento dos ensinamentos da Palavra de Deus e
jogamos todo o nosso ódio para com essas inferências sobre as verdades que
delas extraímos. Ora, qualquer coisa considerada como verdade, a favor ou
contra a doutrina do apóstolo acerca da predestinação e da soberania divina na
salvação, eu afirmo que isto não torna um homem indiferente à sua própria
salvação e à salvação dos outros; este não foi o efeito sobre Paulo, e entre
essas duas grandes passagens encontram-se as maravilhosas palavras de nosso
versículo texto.
[Um trecho do
sermão intitulado "Preocupação Intensa pela Salvação dos Outros", do
livro Sermons and Addresses, Hodder & Stoughton: Nova Iorque,
1886.]
Fonte: Editora Fiel
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