segunda-feira, 8 de outubro de 2012

RECONHEÇA AS OPORTUNIDADES

Paulo era um pregador, um evangelista. Seu alvo era "por todos os modos, salvar alguns... por causa do evangelho" (1 Co 9.22,23). Em Éfeso, encontrou uma porta aberta para realizar seu chamado. Ali havia pessoas ouvindo a pregação do evangelho ministrada por ele, tanto pública como particularmente (At 20.20). Conseguira uma audiência.

Paulo descobriu que a oportunidade em Éfeso era "grande". Porém, não significava que a tarefa seria fácil. Paulo não poderia simplesmente pendurar uma placa, abrir as portas e ver uma igreja desenvolver-se e crescer. As oportunidades eram de engajar-se em diligente trabalho ministerial. Relembrando seu tempo em Éfeso, Paulo testemunhou: "Por três anos, noite e dia, não cessei de admoestar, com lágrimas, a cada um" (At 20.31). Quantos pastores, hoje, podem dizer a mesma coisa? Quantos consideram uma oportunidade destas como uma legítima responsabilidade pastoral?

A oportunidade que Paulo julgava grande consistia no privilégio de gastar-se continuamente pela causa do evangelho. Era a oportunidade de chorar pelas almas de homens e mulheres; de pregar e ensinar o evangelho; de anunciar aos efésios "todo o desígnio de Deus" (At 20.27).

O que fez de Éfeso uma tão maravilhosa oportunidade não foi a facilidade do trabalho, ou o clima, ou o nível educacional do povo, ou o salário e os benefícios. Não! O que a tornou tão atraente para Paulo foi o fato de que Deus o colocou tão providencialmente ali, em meio a tantas pessoas necessitadas. E, como um ministro de Cristo, estava convencido de que no "evangelho da graça de Deus" (At 20.24) tinha a resposta às suas necessidades.

As pessoas a quem Paulo teve oportunidade de ministrar, em Éfeso, podem ser divididas em, pelo menos, três categorias; e ainda hoje encontramos cada uma destas categorias.

Os Parcialmente Ensinados

Chegando a Éfeso, Paulo encontrou doze discípulos que conheciam apenas o "batismo de João" (At 19.1-3). Se estes eram pessoas realmente convertidas ou não, é um assunto que pode ser discutido. Por um lado, a designação de "discípulos" (v.l), feita por Lucas, parece indicar que já eram crentes. Por outro, sua ignorância quanto ao Espírito Santo e a instrução que lhes deu Paulo sugerem que tinham necessidade de conversão (vv.3,4). Seja qual for o caso (e, teologicamente, poderia ser qualquer deles), haviam recebido apenas um ensino parcial sobre Cristo e a salvação. Precisavam de mais instrução. Como Apolo, necessitavam que lhes fosse exposto "com mais exatidão... o caminho de Deus" (At 18.26). Quando Paulo fez isto, abraçaram a verdade e ajustaram a ela as suas vidas.

Ao invés de sentir-se oprimido ou desanimado pelas dificuldades que estes discípulos apresentavam, Paulo tomou-as como uma oportunidade para ensinar-lhes mais completamente o evangelho de Cristo. Corrigiu o errôneo pensamento deles e acrescentou mais informações aos seus entendimentos, até então incompletos.
           
Este tipo de ministério é necessário ainda hoje. Em cada igreja há seguidores do Senhor, sinceros e dedicados, que foram parcial ou incorretamente ensinados. Seu conhecimento não é tão amplo quanto sua experiência. Precisam ser firmados na fé. Quando chegam a um conhecimento da verdade, sua perspectiva muda; reconhecem mais da graça maravilhosa de Deus, que os trouxe à salvação.

Os Religiosos Não-convertidos

Outros, que Paulo encontrou em Éfeso, poderiam ser melhor descritos como religiosos não-convertidos. Eram os judeus, a quem Paulo em primeiro lugar pregou o evangelho, conforme seu costume (At 19.8). Tais como os religiosamente perdidos de qualquer geração, estas pessoas se consideravam seguras por causa de seu comprometimento a certos deveres cerimoniais.

Assemelham-se ao irmão mais velho do filho pródigo, na parábola de Jesus. Estão convencidos de que seu serviço e obras (ou posições e afiliações) merecem a aceitação do Pai (Lc 15.29). E mais, sentem-se ameaçados e acusados por qualquer um que insista ser a salvação totalmente pela graça de Deus.

Paulo não ignorou os religiosos não-convertidos. Viu-os como um grande campo missionário. Afinal, ele mesmo havia sido um deles. Visto que ele próprio fora salvo pela graça, estava convencido de que a graça de Deus poderia alcançá-los também. Portanto, pregava-lhes o evangelho e apresentava-lhes o único caminho de salvação.

Há evidências de que alguns judeus converteram-se e tornaram-se parte da igreja em Éfeso. Mas também há indicação de que "alguns deles se mostravam empedernidos e descrentes". Além disto, falavam "mal do Caminho diante da multidão" (At 19.9). O verdadeiro reformador inevitavelmente encontrará oposições e críticas por parte de alguns. Paulo não permitiu que isto o afastasse de seu propósito; portanto, também deveríamos permanecer firmes em nossos bons propósitos. Se alguns se recusam a crer e tornam-se críticos quanto ao objetivo e conteúdo da pregação, há outros que a receberão e serão transformados. Por amor aos sinceros, não devemos ser dominados pelos críticos. Como Paulo, devemos estar dispostos a suportar tudo "por causa dos eleitos, para que também eles obtenham a salvação que está em Cristo Jesus, com eterna glória" (2Tm 2.10).

Os Obviamente Perdidos

Além de pregar aos parcialmente ensinados e aos religiosos não-convertidos, Paulo teve grande oportunidade de ministrar a muitos que não professavam estar em paz com Deus. O apóstolo sentia um profundo amor por aqueles que eram obviamente não-convertidos. A presença de muitos gentios era, em grande parte, a razão de prolongar sua estada em Éfeso.

A correta mentalidade reformadora nunca é destituída de genuína compaixão pelas pessoas espiritualmente perdidas. Não é suficiente orientar os crentes que não possuem conhecimento completo e enfrentar os hipócritas religiosos. O pastor, que se preocupa com a reforma, deve também ver os campos brancos para a colheita. Precisa cultivar o amor pelos pecadores, que reflete o próprio coração de nosso Senhor.

No ardor da batalha em favor da verdade de Deus, envolvidos na correção de noções equivocadas sobre o evangelho e na exposição do erro da crença falsa, é grande a tentação de perdermos de vista os campos da colheita. O pastor e a igreja comprometidos à reforma completa e bíblica, nunca ficarão satisfeitos ao verem uma obra de santificação entre os crentes desacompanhada de uma obra de regeneração entre os não-crentes.

A verdade humilhadora sobre o evangelismo, mas repleta de esperança, é que um semeia e outro rega, mas somente Deus dá o crescimento. A obra de regeneração está além da habilidade humana.
É uma atividade soberana de Deus. "O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito" (Jo 3.8). O evangelismo, ou seja, levar o evangelho aos não-convertidos, é nossa responsabilidade. O Espírito usa o evangelho para regenerar os não-crentes. Portanto, em completa dependência do Espírito Soberano, devemos indiscriminadamente semear o evangelho, em nossa comunidade e ao redor do mundo.

Paulo preferiu anunciar o evangelho àqueles que nunca o haviam escutado (Rm 15.20,21). Não permitiu que nada o desviasse do grande privilégio e da responsabilidade de fazer discípulos de todas as nações. O evangelismo nunca deve colocar de lado o trabalho de reforma. Os discípulos, no livro de Atos, nunca o desprezaram; enfrentavam e corrigiam os problemas na igreja, sem deixar de lado seus contínuos esforços evangelísticos. A reforma genuína sempre incluirá uma ênfase sadia no evangelismo.

Fonte: Desafio à Reforma, Thomas K. Ascol - Editora Fiel


Nenhum comentário:

Postar um comentário