
Paulo descobriu que
a oportunidade em Éfeso era "grande". Porém, não significava que a
tarefa seria fácil. Paulo não poderia simplesmente pendurar uma placa, abrir as
portas e ver uma igreja desenvolver-se e crescer. As oportunidades eram de
engajar-se em diligente trabalho ministerial. Relembrando seu tempo em Éfeso,
Paulo testemunhou: "Por três anos, noite e dia, não cessei de admoestar,
com lágrimas, a cada um" (At 20.31). Quantos pastores, hoje, podem dizer a
mesma coisa? Quantos consideram uma oportunidade destas como uma legítima
responsabilidade pastoral?
A oportunidade que
Paulo julgava grande consistia no privilégio de gastar-se continuamente pela
causa do evangelho. Era a oportunidade de chorar pelas almas de homens e
mulheres; de pregar e ensinar o evangelho; de anunciar aos efésios "todo o
desígnio de Deus" (At 20.27).
O que fez de Éfeso
uma tão maravilhosa oportunidade não foi a facilidade do trabalho, ou o clima,
ou o nível educacional do povo, ou o salário e os benefícios. Não! O que a
tornou tão atraente para Paulo foi o fato de que Deus o colocou tão
providencialmente ali, em meio a tantas pessoas necessitadas. E, como um
ministro de Cristo, estava convencido de que no "evangelho da graça de
Deus" (At 20.24) tinha a resposta às suas necessidades.
As pessoas a quem
Paulo teve oportunidade de ministrar, em Éfeso, podem ser divididas em, pelo
menos, três categorias; e ainda hoje encontramos cada uma destas categorias.
Os Parcialmente
Ensinados
Chegando a Éfeso,
Paulo encontrou doze discípulos que conheciam apenas o "batismo de
João" (At 19.1-3). Se estes eram pessoas realmente convertidas ou não, é
um assunto que pode ser discutido. Por um lado, a designação de
"discípulos" (v.l), feita por Lucas, parece indicar que já eram
crentes. Por outro, sua ignorância quanto ao Espírito Santo e a instrução que
lhes deu Paulo sugerem que tinham necessidade de conversão (vv.3,4). Seja qual
for o caso (e, teologicamente, poderia ser qualquer deles), haviam recebido
apenas um ensino parcial sobre Cristo e a salvação. Precisavam de mais
instrução. Como Apolo, necessitavam que lhes fosse exposto "com mais
exatidão... o caminho de Deus" (At 18.26). Quando Paulo fez isto, abraçaram
a verdade e ajustaram a ela as suas vidas.
Ao invés de
sentir-se oprimido ou desanimado pelas dificuldades que estes discípulos
apresentavam, Paulo tomou-as como uma oportunidade para ensinar-lhes mais
completamente o evangelho de Cristo. Corrigiu o errôneo pensamento deles e
acrescentou mais informações aos seus entendimentos, até então incompletos.
Este tipo de
ministério é necessário ainda hoje. Em cada igreja há seguidores do Senhor,
sinceros e dedicados, que foram parcial ou incorretamente ensinados. Seu
conhecimento não é tão amplo quanto sua experiência. Precisam ser firmados na
fé. Quando chegam a um conhecimento da verdade, sua perspectiva muda;
reconhecem mais da graça maravilhosa de Deus, que os trouxe à salvação.
Os Religiosos
Não-convertidos
Outros, que Paulo
encontrou em Éfeso, poderiam ser melhor descritos como religiosos
não-convertidos. Eram os judeus, a quem Paulo em primeiro lugar pregou o
evangelho, conforme seu costume (At 19.8). Tais como os religiosamente perdidos
de qualquer geração, estas pessoas se consideravam seguras por causa de seu
comprometimento a certos deveres cerimoniais.
Assemelham-se ao
irmão mais velho do filho pródigo, na parábola de Jesus. Estão convencidos de
que seu serviço e obras (ou posições e afiliações) merecem a aceitação do Pai
(Lc 15.29). E mais, sentem-se ameaçados e acusados por qualquer um que insista
ser a salvação totalmente pela graça de Deus.
Paulo não ignorou os
religiosos não-convertidos. Viu-os como um grande campo missionário. Afinal,
ele mesmo havia sido um deles. Visto que ele próprio fora salvo pela graça,
estava convencido de que a graça de Deus poderia alcançá-los também. Portanto,
pregava-lhes o evangelho e apresentava-lhes o único caminho de salvação.
Há evidências de que
alguns judeus converteram-se e tornaram-se parte da igreja em Éfeso. Mas também
há indicação de que "alguns deles se mostravam empedernidos e
descrentes". Além disto, falavam "mal do Caminho diante da
multidão" (At 19.9). O verdadeiro reformador inevitavelmente encontrará
oposições e críticas por parte de alguns. Paulo não permitiu que isto o
afastasse de seu propósito; portanto, também deveríamos permanecer firmes em
nossos bons propósitos. Se alguns se recusam a crer e tornam-se críticos quanto
ao objetivo e conteúdo da pregação, há outros que a receberão e serão
transformados. Por amor aos sinceros, não devemos ser dominados pelos críticos.
Como Paulo, devemos estar dispostos a suportar tudo "por causa dos
eleitos, para que também eles obtenham a salvação que está em Cristo Jesus, com
eterna glória" (2Tm 2.10).
Os Obviamente
Perdidos
Além de pregar aos
parcialmente ensinados e aos religiosos não-convertidos, Paulo teve grande
oportunidade de ministrar a muitos que não professavam estar em paz com Deus. O
apóstolo sentia um profundo amor por aqueles que eram obviamente
não-convertidos. A presença de muitos gentios era, em grande parte, a razão de
prolongar sua estada em Éfeso.
A correta
mentalidade reformadora nunca é destituída de genuína compaixão pelas pessoas espiritualmente
perdidas. Não é suficiente orientar os crentes que não possuem conhecimento
completo e enfrentar os hipócritas religiosos. O pastor, que se preocupa com a
reforma, deve também ver os campos brancos para a colheita. Precisa cultivar o
amor pelos pecadores, que reflete o próprio coração de nosso Senhor.
No ardor da batalha
em favor da verdade de Deus, envolvidos na correção de noções equivocadas sobre
o evangelho e na exposição do erro da crença falsa, é grande a tentação de
perdermos de vista os campos da colheita. O pastor e a igreja comprometidos à
reforma completa e bíblica, nunca ficarão satisfeitos ao verem uma obra de
santificação entre os crentes desacompanhada de uma obra de regeneração entre
os não-crentes.
A verdade
humilhadora sobre o evangelismo, mas repleta de esperança, é que um semeia e
outro rega, mas somente Deus dá o crescimento. A obra de regeneração está além
da habilidade humana.
É uma atividade
soberana de Deus. "O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes
donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito"
(Jo 3.8). O evangelismo, ou seja, levar o evangelho aos não-convertidos, é
nossa responsabilidade. O Espírito usa o evangelho para regenerar os
não-crentes. Portanto, em completa dependência do Espírito Soberano, devemos
indiscriminadamente semear o evangelho, em nossa comunidade e ao redor do
mundo.
Paulo preferiu
anunciar o evangelho àqueles que nunca o haviam escutado (Rm 15.20,21). Não
permitiu que nada o desviasse do grande privilégio e da responsabilidade de
fazer discípulos de todas as nações. O evangelismo nunca deve colocar de lado o
trabalho de reforma. Os discípulos, no livro de Atos, nunca o desprezaram;
enfrentavam e corrigiam os problemas na igreja, sem deixar de lado seus contínuos
esforços evangelísticos. A reforma genuína sempre incluirá uma ênfase sadia no
evangelismo.
Fonte: Desafio à Reforma, Thomas K. Ascol - Editora Fiel
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