Por Prof. Isaías
Lobão Pereira Júnior
O pensamento Pós-Moderno esvaziou a religião
formal. Na Pós-Modernidade, a religião deixou a dimensão pública e restringiu-se
à esfera privada. Na tentativa de se libertar de uma cultura religiosa com
padrões morais absolutos, o indivíduo pós-moderno criou uma religiosidade
interiorizada, subjetiva e sem culpa.
As pessoas querem optar pela sua “preferência”
religiosa sem ser importunadas por opiniões contrárias. Os critérios que
orientam essas escolhas são todos íntimos e subjetivos. Semelhantemente, também
não tentarão impor sua nova opção de fé a ninguém.
Na Igreja, o que antes era convicção, hoje é opção.
Os mandamentos divinos passaram a ser sugestões divinas. A igreja é orientada
por aquilo que dá certo e não por aquilo que é certo. O
pragmatismo missionário e o “novo poder” da igreja (político, econômico,
tecnológico, etc) esvaziou o significado da oração e seu espaço na tarefa da
igreja. Confiamos mais em nossos recursos e menos em Deus, superestimamos o
poder de César e subestimamos o poder de Deus. As ferramentas ideológicas e
tecnológicas tornaram-se mais eficientes que a comunidade e a comunhão.
Entendo que a versão evangélica da pós-modernidade
seja o neopentecostalismo e seus famigerados congêneres. O
neopentecostalismo possui diversos traços de continuidade cultural com o
catolicismo popular latino-americano. Continuidade que muitas vezes desemboca
em sincretismo e no reforço de práticas e concepções corporativistas. O
protestantismo, por sua vez, é a religião da escrita, da educação cívica e
racional. Favorece uma cultura política democrática e promove uma pedagogia da
vontade individual.
Entende-se por “protestante” ou “protestantismo”
todo o conjunto de instituições religiosas surgidas em conseqüência da Reforma
Religiosa do século XVI nas suas principais vertentes que são a luterana e a
calvinista e que procuram manter os princípios básicos que formam o princípio
protestante da liberdade: a justificação pela fé, a “sola scriptura”, o livre
exame da Bíblia e o sacerdócio universal de todos os crentes.
Hoje em dia é difícil incluir entre os protestantes
alguns setores do pentecostalismo e, principalmente, do neopentecostalismo
brasileiro. Esta é a opinião do Dr. Ricardo Mariano [1] que analisou os
modernos movimentos neopentecostais e segundo ele:
O neopentecostalismo, o
responsável pela “explosão protestante”, à medida que passa a formar
sincretismos, a se autonomizar em relação à influência das matrizes religiosas
norte-americanas, a promover sucessivas acomodações sociais, a abandonar
práticas ascéticas e sectárias, a penetrar em novos e inusitados espaços
sociais e a assumir o status de uma grande minoria religiosa, cada vez menos
tende a representar uma ruptura com a cultura ambiente. Tende, pelo contrário,
a mostrar-se menos distintivo, mais aculturado, mais vulnerável à antropofagia
brasileira e, portanto, cada vez menos capaz de modificar a cultura que o acolheu
e na qual vem se acomodando.
O neopentecostalismo, pelo contrário, provêm da
cultura religiosa do catolicismo popular, corporativista e autoritário. É a
religião da lábia, do engano e da corrupção. Ele favorece o analfabetismo
bíblico. Esta nova religiosidade evangélica é um tipo de ocultismo, recheado de
citações bíblicas. O Neopentecostalismo há muito deixou de ser evangélico,
tornando uma outra forma de expressão religiosa, distante do pensamento
protestante e reformado.
Uma das rupturas mais sérias do Neopentecostalismo
com o pensamento protestante, é o uso da Bíblia. No Protestantismo a Bíblia é
sua última autoridade, não a tradição ou personalidades importantes ou
mesmo a experiência espiritual, enquanto que o Neopentecostalismo enfatiza o
uso mágico da Escritura. Para os neopentecostais, a Bíblia é mais um oráculo a
ser consultado do que a única regra de fé e prática.
Em Brasília, um jornal local publica semanalmente
um anúncio estranho: “Revela-se por Professia” (sic). A promessa por trás dessa
mensagem é a solução imediata dos problemas, dos encostos e das maldições, tal
como as inúmeras videntes que infestam os grandes centros urbanos. Normalmente
nestas sessões, a vidente se posta diante do pedinte com uma Bíblia aberta. A
intenção é encontrar “na palavra” a solução para os problemas. Os versos
bíblicos são interpretados fora de contexto, sempre na busca de uma “palavra de
bênção”.
No neopentecostalismo, as doutrinas bíblicas foram
rejeitadas e substituídas por um falso evangelho centralizado no homem. Boa
parte da pregação neopentecostal é um mero exercício de auto-ajuda, com a
intenção principal de acalmar a consciência pecaminosa com promessas de riqueza
e bem-estar. Contudo, o mandamento para todos os ministros cristãos, ainda
continua sendo, prega a palavra (I Timóteo 4:1), em lugar disso, os
pregadores se transformaram em animadores de auditório.
Nossa tarefa apologética para esta era pós-moderna
é restaurar a confiança na verdade. A Bíblia continua sendo a Palavra de Deus.
A Bíblia é um documento inspirado da revelação divina, quer este ou aquele
indivíduo receba ou não o seu testemunho. Devemos, pois, respeito e obediência
à Bíblia, não por ser letra fixa e estática, mas porque, sob a orientação do
Espírito Santo, essa letra é a Palavra viva do Deus vivo dirigida não só ao
crente individual, mas à Igreja em geral.
A igreja precisa rever sua atuação, olhando para o
Senhor Jesus e lançando-se humildemente de volta às Escrituras, resgatando sua
identidade e o seu chamado. Se abrirmos mão da Palavra de Deus como verdade
absoluta, correremos sérios riscos diante de uma sociedade sem referenciais,
mas principalmente diante de um Senhor zeloso que rege a história e têm em suas
mãos todo o domínio e todo o poder.
NOTAS:
[1] - MARIANO, Ricardo. O futuro não será
protestante. Comunicação apresentada na USP na Jornada sobre Alternativas
Religiosas na América Latina. 1998.
Fonte: Monergismo.com
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