Por Norma Braga
Não
entendo que muitos que se denominam “cristãos” hoje consigam tranquilamente negar
a base de toda a nossa fé: a unidade da Bíblia.
Em
primeiro lugar, eles demonstram com isso uma tremenda falta de confiança nos
irmãos que tanto trabalharam, antes deles, durante séculos, nas mais variadas
áreas, para reconhecer e confirmar a autenticidade de todos os 66 livros das
Escrituras. Exibem-se assim não só como pretensos “descobridores da pólvora” –
e Deus sabe o quanto a tentação do ineditismo, em nossos dias, é avassaladora –
, mas sobretudo como desdenhosos (e, não duvido, ignorantes) de todo o generoso
encaminhamento investigativo que Deus permitiu para que tivéssemos esse
impressionante Livro, coeso, em nossas mãos.
Em
segundo lugar, fazem com a Bíblia algo que jamais fariam com seu autor
literário predileto: ignoram pedaços inteiros como “corpos estranhos” para dar
coerência a uma ideia previamente estabelecida por eles, imputando-a ao todo
como uma camisa-de-força. Agem assim como verdadeiros Jacks Estripadores do
livro que sustenta todo o cristianismo. Fico imaginando um crítico literário
que, diante de um romance de Albert Camus como A peste, tentasse provar
intenções espúrias do personagem principal, doutor Rieux, argumentando que
todas as páginas que descrevem seus esforços contra a praga “não foram, na
verdade, escritas por Camus e não pertencem ao livro”. Será que daríamos tanta
atenção a esse crítico quanto damos aos teólogos universalistas, por exemplo –
que, contra toda palavra do próprio Cristo sobre o inferno, preferem “pular” os
trechos que os tiram de sua zona de conforto ou, pior, preferem interpretá-los
esotericamente? Por que levaríamos as Escrituras menos a sério, em sua
inteireza, do que consideramos uma obra de literatura? Posso entender essa
leitura afrouxada por parte de um descrente, mas não de um crente em Cristo, sobretudo
quando pensamos o quanto Cristo conhecia, estudava e amava a Palavra que tinha
em suas mãos: o Antigo Testamento.
Diante de
qualquer texto, requer-se do leitor que não projete seus próprios anseios e
preconceitos por sobre a leitura. Caso proceda assim, será um mau leitor e não
conseguirá formar uma ideia adequada do que está lendo, seja uma narração, uma
descrição ou uma peça argumentativa. A Bíblia precisa de leitores que a
abordem, no mínimo, como a um texto coerente, não um amontoado de frases ou
livros sem conexão entre si. Mas, sobretudo, precisa de leitores que se
aproximem dela como se aproximariam do próprio Cristo: com “ouvidos para
ouvir”, ou seja, humildade para aprender e coração fértil para as mudanças que
Deus quer operar em nós, para a Sua glória. Só para esse leitor humilde a
Bíblia será, como foi para Timóteo, “as sagradas letras, que podem tornar-te
sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus” (2Tm 3.15).
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Fonte: Blog
da Norma Braga.
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